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Domingo 15/07/07 - Manhã

Apresentações e Recapitulação do dia anterior (10:30)

  • Porque pensamos em fazer esse encontro? Necessidades e como o mesmo foi organizado.
  • Histórico da problemática que foi discutida.
  • Fala do Bráulio recapitulada: Documentaristas da década de 80 - ABVP, investimentos estrangeiros pós guerra fria, os investimentos foram cancelados, e o movimento morreu.
  • Fala do Rhatto recapitulada: software livre, onde primeira vez que se esboçou a captura do trabalho voluntário num meio digital, com varias pessoas trabalhando conjuntamente para a produção de um software; início da apropriação do trabalho coletivo voluntário. Criação do Linux: com proposito de terminar o trabalho que a fundação estava fazendo, Linus Torvalds, estudante finlandês de computação, soltou o software na proto-internet, onde as pessoas começaram a pedir adaptações no software e a colaborar com as modificações; Linus passou a gerenciar as demandas das pessoas. O Linux só sobreviveu porque abriu e foi tocado pelas pessoas, com muita gente trabalhando na mesma coisa, ao contrário dos softwares tradicionalmente desenvolvidos sobre os auspícios da Free Software Fundation, que por sua evz tinha uma grande discussão ideológica.
  • Recapitulação da fala do Pablo - Licenças de uso de conteúdo, GPL-licença pública geral, você pode fazer o que quiser com essa licença e modificá-la, mas deve manter a licença na distribuição. Ao invés de ser contra a propriedade intelectual, criaram uma contrato, que se pode fazer o que quiser. O CMI não foi capturado, permaneceu com um fim não comercial.

Continuação do histórico

Será que os nossos grupos polícos, acabam trabalhando para o capitalismo, ao inovar e criar novas formas de trabalho?

Rhatto - Histórico. O modelo de Software Livre precisa de uma comunidade para trabalhar na produção do Software e dar feedback. O propósito do Open Source é diferente do Free Software, o primeiro quer mobilizar uma comunidade para otimizar a produção, e o segundo tem princípios éticos por trás. A linha de desenvolvimento também é diferente em cada um no processo de tomada de decisões.

O movimento anti-globalização e o barateamento das tecnologias possibilitarem, em movimentos como o de Seattle em 1999, que os manifestantes publicassem seu próprio conteúdo utilizando Software Livre. Mais do que isso, as indústrias culturais sofreram prejuízos imensos com os mesmos processos de produção e cópia digital.

A partir disso, algumas pessoas, talvez ingênuas mas definitivamente liberais, começaram a enxergar que era possível utilizar essas possibilidades e esse movimento para criar um novo modelo de negócios cultural, satisfazendo as 'necessidades' tanto das pessoas - produtoras - quanto da indústria. Foi aí que surgiram as licenças Creative Commons. Hoje, as mesmas indústrias que investem em Cultura Livre investem em anti-pirataria.

Diogo - O modelo neoliberal de hoje é de que não importa o modelo de negócios, uma vez que ele seja rentável.

Rhatto - A licença Creative Commons foi criada tendo em mente que a produção deveria ser conciliada com a produção de lucro, com a apropriação. Além disso, ela defende a propriedade. O discurso duplo faz uma ponte, um pacto social, que permite a captura do conteúdo produzido pelo grande capital. Outro exemplo é o do Youtube: informação publicada no Youtube é de propriedade do Youtube.

Overmundo também é um site com objetivo de mapeamento cultural, cujo organizador Hermano Vianna tem parcerias com a Globo e com a Petrobrás. Ele pegou um software livre, pagou alguns programadores para alterar o Software Livre respeitando mais ou menos as licenças originais, e lançou esse site. Lá é possível tanto publicar mídias como reportagens, e o site paga 26 jornalistas, um em cada estado, para ajudar no mapeamento.

Voltando ao Creative Commons, ao publicar seu conteúdo sob essa licença você legitima o processo de apropriação.

Em 2003, inspirados por eventos de Mídia Tática na Holanda, resolveu-se fazer um evento no Brasil unindo diversos grupos de arte. Surge então Cláudio Prado que levou o Gilberto Gil no Mídia Tática Brasil, viu um monte de gente fazendo um monte de coisa, e começou um projeto político pensando em utilizar a cultura para atigir o crescimento. Criou uma equipe de 'articuladores' com jovens envolvidos em diversas articulações, com uma espécie de time improvisado, para levar diferentes projetos para frente.

Criscabello - A idéia do Estúdio Livre foi apropriada por esse grupo de articuladores.

Rhatto - A impressão é de que o grupo de articuladores não era aproveitador, trabalharam por um ano sem receber nada enquanto CP fazia lobby com o governo e foi criado um edital que proveria dinheiro, equipamento e conexão via internet para um projeto que deveria utilizar esses recursos em uma comunidade. Em troca a produção cultural seria publicada em alguns sites específicos.

Fim do histórico

Diogo - As oficinas que eram um meio de chegar onde queríamos viraram um fim nelas mesmas. As discordâncias fazem as pessoas deixarem de produzir coletivamente e sairem em frangalhos do processo. É importante pensar no papel de uma pessoa do Ministério da Cultura quando vai fazer essas oficinas e é recebida como uma pessoa do Ministério, do governo.

Várias pessoas - discussão de propostas para a continuidade da reuniao: propostas de que os conceitos sejam definidos. Ao mesmo tempo existe necessidade de debate sobre a fala do Rhatto.

Flavia - proposta de construir um vocabulário/glossário, e um conjunto de princípios gerais de práticas.

Propostas de como organizar as idéias até o final da reunião e como organizar uma última rodada antes do almoço. Criar referenciais de ação.

Rodada final

Caetano - no rio um projeto IP financido por uma ong holandesa agregou grupos embora tenha gerado relatórios apropriados por instituições. O espaço comum é importante: espaço tagueado, trabalhar com muitos nomes para que as pessoas trabalhem juntas.

Criscabello - Importância de espaços de convivência e de troca, espaço para falar e ser ouvido, de fluxo de idéias, isso pode ser melhor desenvolvido a partir desse encontro, elemento comum entre as diferentes iniciativas.

Marcelo Tavares - dever de divulgação do conhecimento produzido. O financiamento público é uma forma legítima de possibilitar essa divulgação, de forma que o conhecimento volte para o povo.

Não é necessariamente cooptação. Trabalho como professor do estado possibilitou projeto de software livre em escolas públicas.

Chico - Participa de coletivos de arte (Curinga e Elefante), uso da gravra como mídia. O trabalho dependia das contribuições individuais. O grupo fez alguns trabalhos com SESC e promove cursos, mas sente davam mais do que recebiam. Agora o financiamento é independente e agrega mais artistas.

Fernão - O grupo está falando para si mesmo, é um problema comum, onde estão os movimentos? O que é ativismo? Trabalha com o MTST, uma experiência de movimento híbrido, que herda coisas do leninismo e o sindicalismo mas abre discussões sobre autonomia. Não há financiamento do Estado.

Há doações de sindicatos e muito debate sobre isso, preocupação com a cooptação mesmo assim. Há ações de ocupação e ações de educação e cultura, agora um projeto de cinema com financiamento da prefeitura. É importante que se diga que a relação com outras organizações de esquerda também tem coisas positivas e negativas.A necessidade de autonomia financeira também é um problema nesse caso. Aline - Hoje atua num grupo de ONGs de direitos humanos que atua no Conselho de Direitos Humanos da ONU e tem feito reflexões sobre essa atuação, e sobre seu papel pessoal. Há coisas interessantes, ao mesmo tempo é um grande circo, formado por delegações de países e um espaço de ONGs. Pôde levar para esse espaço idéias que traz da sua participação em grupos autônomos. O desafio é: estou justificando esse conselho ou de fato transformando?

Elisa - A proposta do encontro não era trazer os outros movimentos, ela partiu de uma necessidade interna de nossos grupos, mas vimos que o encontro tomou uma dimensão maior, isso é positivo, mas não foi organizado para garantir a presença dos movimentos, por isso eles não estão aqui.

Ju - Presente o problema da tensão entre trabalho e ativismo

Juba - Problema da captação do nosso trabalho:na rádio Muda tivemos propostas da Reitoria, da Trama, e sempre recusamos. A rádio livre é livre do poder, do dinheiro e dos técnicos, existem assimetrias mas ninguém manda na gente. O dinheiro: montamos uma TV Livre com doações pessoais e organizando festas, também não dependemos de conhecimentos externos. Podemos discutir em grupos como criar novos valores, talvez pensar numa licença que exclua o lucro, que inclua o anti-capitalismo, para não permitir que nosso trabalho seja apropriado.

A Rádio Muda tomou forma a partir da ação das pessoas num processo, longas discussões, debates coletivos e constantes sem necessidade de delimitaçoes.

Ianni - Eu estava com uma idéia de ingenuidade sobre a diferença entre os caminhos dos grupos. Foi bom ouvir as pessoas, há nuances nos discursos, a ingenuidade pode passar ao cinismo mas existem outras possibilidades, tomar conhecimento de outras idéias. Em grupos pequenos é mais fácil chegar a consensos e lidar com financiamento. Em grupos maiores é mais complexos. As idéias são sutis, mas na práticas as diferenças são evidentes. Não interessa tanto tando estudar a lógica do sistema mas trabalhar de forma experimental, errar mudar de direção, isso é mais inapropriável, isso não pode ser perdido.

Foz - Experiência no Espaço Impróprio. Os espaços autogestionados desse tipo são necessários, tem que ser bancados fora do capitalismo, a forma não está pronta. O ativismo tem que ser parte do cotidiano de vida. Eu não quero resolver um problema de moradia com o dinheiro de uma empresa que explora trabalhadores. Há muitos grupos de cultura livre com diferentes estratégias. É possível trabalhar juntos? É transformador trabalhar separados. O compromisso de contribuir com as comunidades é fundamental.

Danilo - A cooptação acontece quando a causa se esvazia, ou as propostas perdem a efetividade. A cooptação perfeita é a que mantém a sensação de autonomia, e o que se produz (mesmo que vá contra a direção de quem financiou) vai ser utilizado e apropriado. O segredo é não entragar nunca o ouro, não se mostrar totalmente. algumas coisas tem que ser feitas na surdina. A AUTONOMIA NA COOPTAÇÃO É O QUE POSSIBILITA O CONTROLE MAIS EFICAZ.

Paíque - Os grupos pequenos também são cooptados, são os grupos pequenos e próximos. As pessoas descobrem que é possível fazer oficinas radicais e ganhar dinheiro com isso. Existem espaços de conspiração financiados pelo Estado. É possível encontrar formas de sustento que possibilitem a continuidade da militância. Mas o trabalho não pode ser nossa militância. Os espaços de resistência não são só fugas. É importante não aceitar dinheiro de fundação ou do governo, isso poderia até ser mediado, mas temos como estratégia recusar esse tipo de coisa. Podemos trabalhar nos projetos, mas militância é outra coisa.

Chico Caminati - Achar que não tem saída leva a reproduzir as formas que existem. na Rádio Muda viajava muito, sempre dividindo custos. Não havia um objetivo certo, e esse caminho precário nos levou a participar de projetos de governo. Não existe inocência. Eu achava que ia fazer uma coisa interessante, assumi um cargo de coordenação.A sensação de autonomia é fundamental para que as pessoas produzam mais. O jargão do projeto, a coisa de conseguir dinheiro antes de se ter um objetivo.

No projeto do governo pensávamos a princípio na autonomia, mas virei um burocrata fazendo coisas escrotas. Ia para o interior e encontrava umas tiazinhas que faziam artesanato recebendo aulas de empreendedorismo do SEBRAE. As pessoas não sabem como funciona a burocracia. Do outro lado tem uma sala cheia de papéis onde trabalham mulheres e os processos não andam. A gente começa a pensar pela racionalidade daquele sistema. Fazer oficinas sem dar satisfação a ninguém é totalmente diferente.

Resolver um problema na Rádio Muda é diferente de viver de projeto em projeto. Tem um circuito de ongs, governo interessados no nosso trabalho mas esse trabalho também pode ser alienado.Conservar o que já temos não é tão importante (ficar travados juntos).


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