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Encontro de Cultura Livre e Capitalismo - São Paulo - 14/07/2007
Apresentação e discussões iniciais
- 10:34 - Apresentação da organização do Encontro
- Seguido: de como faremos o encontro: em temas divididos, discussão livre, etc? Lembrando que os eixos propostos são:
- Financiamento
- Exploração 2.0
- Voluntariado//trabalho assalariado//ativismo//autonomia
Foi decidido por inicialmente todo mundo se apresentar e aí sim decidir o formato do encontro.
Apresentação individual e de participação no Encontro (10:38)
Rhatto se apresenta e fala da idéia do Encontro, de como surgiu essa reflexão a respeito da expansão do capitalismo, onde, dentre muitos outros agenciamentos, as pessoas hoje sem saber acabam fornecendo conteúdo para o banco de dados e integram o chamado ativismo profissional.
Na apresentação vários grupos se mostraram presentes (Cultura Digital, Birosca, Saravá, CMI, Consulta Popular, radiolivre.org, Corpus Crisis, TV Livre, Coro, Coletivo Elefante, Grupo Epidemia, Espaço Coringa) tencionados à discussão da apropriação capitalista, principalmente governamental.
Nesse momento da apresentação um dialogo individual declarou varias posições de ativismo, purismo, capitalismo...
Declaração da dissolução de grupos de ativismo que aconteceu por não haver essa reflexão da apropriação do capitalismo sobre o ativismo.
Foi chamada a atenção a respeito do REFLUXO depois do movimento anti-globalização de SP, logo depois o surgimento ou aparecimento de outros grupos de ativismo como o de Software Livre e novamente o refluxo.
Formato do Encontro (11:40)
- Fazer stream? A questão do incomodo dentro do próprio encontro e a forma como as pessoas vão ouvir o Encontro (varias pessoas ao mesmo tempo falando) e da mesma forma o poder do boca-boca.
- Continuidade do encontro: Idéias: comecar com historicidade, eleger casos e discutir em cima deles? Ou manter o formato proposto?
- Decisões:
- Não fazer stream.
- Introdução com historicidade
- 13h - parada para o almoço
- 14h - volta com debate
Começa a discussão (11:54)
Históricos
Introdução do Çtalkre: Criação de organização para produção de videos populares no final dos anos 70, que foi grande mas muito limitado a poucos militantes e que eram sempre financiadas por ongs estrangeiras. Desmonstração de que quando esse dinheiro foi para outra direção (África) esse movimento parou porque era depende do dinheiro que vinha das ONGS.
Hoje a gente ve essa lógica mais horizontalizada das Radios Livres.
Após a fala do Çtalkre, Rhatto fala sobre o que ele considera um dos primeiros aparelhos de captura do trabalho social e voluntário do capitalismo digital se deu no plano do software livre. Eis seu relato, que relato não representa ao pé da letra o que foi proferido e gravado em áudio, mas sim a idéia geral da fala, sendo uma correção das anotações do encontro:
No início da informática, os computadores eram usados basicamente no meio acadêmico, corporativo e militar. Haviam poucos computadores e seu uso era bem restrito, dado seu custo, tamanho, consumo de energia e pelo próprio estado da computação da época, onde poucas aplicações práticas eram vislumbradas (em relação a hoje, claro). Nesse período "de ouro" da computação, a noção de autoria dos programas de computador e a própria idéa de direito autoral era muito fraca. Os programadores distribuíam seus códigos entre si da mesma forma como o meio acadêmico até certo ponto possui um compartilhamento de pesquisas, dados e resultados.
Mas, a partir do momento que a indústria da informática passou por um barateamento dos computadores, a venda de softwares passou a compor uma importante fatia dos seus lucros. Por isso, ela passou a adotar o modelo de propriedade intelectual já presente em outros setores produtivos. Então chegou num momento de escassez, teoricamente as pessoas poderiam emprestar seus programas, mas na prática os contratos que os programadores/as assinavam passavam todo o direito de propriedade sobre o código para as empresas. Isso criou o modelo do o sofwtare fechado, no qual cada empresa deve ter seu grande staff de programadores/as que deve criar os programas praticamente do zero.
Em resposta à essa iniciativa de restrição de acesso e uso da informação, surge em meados de 1984 o conceito de Copyleft, a Fundação do Software Livre e do Projeto GNU, encabeçados por Stallman, tendo como objetivo a criação dos chamados softwares livres, de modo que a forma de colaboração inicial na produção de software pudesse persistir.
Durante os anos 80 e até o fim dos anos 90, os projetos de software livre estavam restritos ao meio acadêmico e em pequenos guetos de desenvolvimento, onde em geral se adotava o modelo da "catedral", onde o programador, detentor dos conhecimentos necessários, mantinha-se isolado na sua torre de marfim onde escrevia seu código. Se hoje tal atitude parece pouco natural e até elitista, basta imaginar que na época a internet era embrionária e as formas de comunicação e trasnferência de dados era muito mais primitivas do que hoje.'
Muito bem. No início dos ano 90 o universo do software livre já era habitado por uma gama enorme de programas: quase tudo o que era necessário para operar um computador usando exclusivamente software livre já existia, com a exceção da parte principal: o "kernel", isto é, o núcleo do sistema operacional (resumidamente, isso deveu-se em grande parte pelo fato de que o projeto GNU estava e ainda está desenvolvendo um kernel experimental, tão complexo e teoricamente desafiador que ele ainda nem é usável).'
Nessa época (início dos 90) entra em cena um estudante de computação finlandês chamado Linus Torvalds que, durante cerca de um ano, escreve por conta própria seu próprio núcleo do sistema operacional, chamado de Linux. Após esse período, ele o lança na "internet" da época. Apesar de não ter se tratado de uma peça de software excepcional, o Linux foi de certo modo bem recebido pelas comunidades de programadores, que prontamente começaram a pedir alterações no código ou mesmo enviar alterações para serem incluídas no Linux. Linus se mostrou extremamente responsivo e atendia aos pedidos de alteração e inclusão e com isso mobilizou toda uma comunidade de desenvolvedores e usuários de software em torno do desenvolvimento do Linux. Nesse momento, Linus passa não apenas a ser um mero programador, mas também um gerenciador de uma comunidade, de um processo de desenvolvimento.
Com esse modelo de agenciamento do esforço colaborativo, a evolução do Linux foi a mais rápida da história dos sistemas operacionais (e quiçá de toda a programação). A partir desse momento esse modelo de desenvolvimento passa a chamar a atenção do mundo corporativo, que começa a remunerar as figuras chave do desenvolvimento do Linux e também de outros projetos de software livre de modo a controlar o processo de evolução dos programas.
É então que, a meu ver, surge a primeira forma de captura e apropriação: existe uma comunidade voluntária mobilizada em torno de um desenvolvimento comum, no caso o Linux. A vantagem dessa comunidade em relação ao modelo do desenvolvimento fechado é que o feedback do "produto" vem de forma mais efetiva. Então um pool de empresas interessada numa dada linha de desenvolvimento do Linux passa a remunerar as pessoas de postos chaves (Linus Torvalds e outros desenvolvedores importantes) e com isso a empresa acaba dando o tom que o desenvolvimento deve seguir. Por exemplo, hoje não se fala mais tanto em adaptar o Linux para computadores antigos, mas sim em adaptá-lo às novas tecnologias e necessidades da informática de ponta.
Em resumo: o software livre surgiu como um contraponto ou mesmo uma luta contra o mundo corporativo que insistia no modelo de desenvolvimento fechado. Mas, a partir do momento em que as novas formas de gerenciamento e desenvolvimento de software livre passaram a apresentar vantagens para o mercado corporativo, este passa a adotá-lo. No caso, a vantagem é uma grande comunidade voluntária trabalhando gratuitamente numa linha de desenvolvimento pautada pelas empresas, uma vez que elas remuneram as figuras chave do processo.
Essa forma de captura do trabalho voluntário e da ideologia (no caso, o discurso da colaboração e do acesso aberto) hoje assumiu proporções inimagináveis em outros tempos e seu perigo principal reside no fato de não ser óbvia. Um exemplo interessante de captura se dá quando, por exemplo, uma pessoa envia para uma empresa a descrição ou a resolução de um problema referente a um dado produto (como por exemplo um software); no caso, a empresa está sendo ajudada de forma gratuita. Podemos até nos arriscar e dizer que há uma nova forma de extração ou mesmo uma nova forma de mais-valia em tais processos. Além disso, tudo o que as pessoas fornecem a bancos de dados podem representar processos de captura.
Discussão Livre
- Ver o software como linguagem.
- O que nos temos hoje é um processo que amplia a colaboração dentro das fabricas, que geram valor ao sistema. Se os consumidores são colaboradores isso faz parte de um processo (os funcionários são colaboradores).
Retorno à discussão
Volta a introdução, com o Pablo, a respeito das licenças: criação do CMI (1999) com a discussão com o pessoal da FSF sobre o copyleft. Quando a licença do software livre é tida pela GNU com direito a apropriação para comércio, enquanto que no CMI não poderia para fins comerciais (para não ser apropriado pela imprensa corporativa). Mesmo essa estratégia do CMI foi incorporada, pois o CMI se acomodou não se renovou, porque não conseguiu socializar a discusso das licenças que não eram comercializaveis.
Ressaltação para a GPLv3, que quer impedir a apropriação de empresas como o YouTube e GMail que usam software livre mas não distribuem nem o código nem o programa.
Discussão Livre
- Um gueto em expansão
- Apropriação das pessoas do CMI, mas o fato do CMI ter essa licença o impediu de ser cooptada.
- Existe uma diferença entre os meios e os fins. hoje em dia a discussão é qual é a licença mais livre? qual distribuição? qual wiki? a discussão deixou de ser o meio e passou a ser o fim.
Retorno à discussão
Volta com Pajé: colcha de retalhos (a manta ta la e a gente ta retalhando em cima dela). Uma crítica radical a ciência técnica: a maneira como a gente ta pensando se desenvolve a licença x ou o que que a gente tá fazendo com toda essa parafernalia que temos em nossas mãos? e quem é que está definindo isso. se a gente pensa a história da ciência da técnica e a gente tem que pensar o financiamento (o estado e o poder); temos aqui o dinheiro, a propriedade, o trabalho, a magia (MARAVILHIZAÇÃO tecnológica -> inovação -> arte) -> as novas formas de proposição.
Fabs - voltando para a contextualização: falando sobre o software que ela trabalha que eh Blender que era um software comercial que a comunidade comprou, em 2002 o código dele foi aberto/liberado. O nível que esse código atingiu hoje jamais teria atingido se ele não fosse liberado pois foi uma construção coletiva. Nessa questão comercial existem dois pesos, ha interesse das empresas abrirem os códigos (depois de um determinado tempo), ha de se considerar essa questão que quando você deixa o código aberto agrega mais programadores.
Fala da história do projeto Estúdio Livre, um aglomerado de pessoas que estavam pensando igual na mesma época, depois do Fórum Social Mundial, tinham de fazer relatório e como o Estúdio Livre, foi coptado pelo IPI, e como ela saiu do projeto.
Rhatto - a respeito do fato, que em certos círculos chega até a ser comemorado como uma vitória, do software livre já estar sendo usado em Hollywood (que tradicionalmente é um antro de proteção da propriedade intelectual), fica a pergunta: mas em que sentido isso é bom? Estamos interessados/as que Hollywood porventura use um conteúdo que coletivamente produzamos com o intuito de mudar a sociedade? Estamos interessados também que Hollywood compartilhe sua produção carregadíssima de conteúdo ideológico? Ou estamos interessados na destruição de Hollywood?
Fortalecer o Estado para depois poder destruí-lo?
Fabs - Projeto estudo de comunidade de pessoas, Alê do Minc, no FSM depois da Caravana da Comunicação do Mediasana. fez vinculos pessoal entre as pessoas, a lista do Estúdio Livre começa com a ida ao FSM, mas que vê que Estúdio Livre foi fagocitado pelo Cultura digital.
O hacklab, que desenvolve sistema dentro do Cultura Digital,estamos numa situação limite neste segundo governo, de saber até que ponto este parceiro, está querendo ajudar, com a clausura de que tudo o que produzir é do IPT.
Independente de que for (cmi, estudio, minc)quero trabalhar com pessoas, trabalhar em comunidade. Sobre a grana e uso de grana estatal, senão usarmos outros usarão. O edital estava lá e alguém usaria. pensar pelo fluxo de dinheiro.
Marcio - Um coisa em pessoal sobre Osasco, sobre a ocupação do Lamarca, sobre a polícia fazendo a posse, os caras organizando farmácia comunitária, a polícia na iminência de entrar.
Se eles resistirem agora, nimguém mais tira eles.Chegada do vereador do PT, O terreno era de um dos Mattarrazo.
Dando um salto, conheceu o ICAL, trabalhando na gestão da Marta, o movimento de ocupação durante a gestão, parou, com o Orçamento Participativo, conteve todo a potência política do movimento, uma outra máquina de captura, que é o FSM, descobre uma alternativa "vida pós-capitalismo".
Com refluxo, do movimento de ocupações, teve o primeiro Mídia Tática, onde um monte de movimentos bacana se encontraram, acabou foram parar no governo.
Enfraqueceu o movimento do contra de base ou fortaleceu algumas ações pontuais.
Paíque - Dois pontos, é a relação desses projetos com a exploração 2.0 com as comunidades lá. como forma de resistências cultural.
Segundo ponto eu acho que vale a pena estudar a história, das organizações, temos de estar orientando ao nossa voltando nosso projeto.
José - O capitalismo é uma ação, num determinado momento teve práticas contestatórias num determinado momento começaram a ser usados na lógica do mercado.
Nesse quadro, uma série de práticas que eram anti-sistema, deixam de ser, o anti capitalismo tem de se modificar e tomar novas práticas.
O anti é o sentido de construir naquele momento.
O capitalsimo hoje é diferente de 20 anos atrás quando começou o software livre.
A capacidade de desenvolver uma capacidade de mutação, é pensar na sustentabilidade.
Tem o elemento político, a gente não está influindo na decisão relevante, tem de pensar que estamos sendo capaz de afetar ou não.
Onde a gente está impactando realmente, ensinando o capitalismo a se readaptar. ser capaz de pensar.
Gus - ver ou estudar a história das organizações os sindicaticos foram totalmente coaptados pelo capital, hoje tem indústrias mais democráticas que muito sindicatos.
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