DiscussaoSobrePrincipiosEticos

Esta seção é dedicada à discussão sobre a elaboração princípios éticos e de relacionamento. O resultado dessas discussões pode ser visto na página do Conjunto de Princípios Éticos.

Comentário do Chico

Bela iniciativa, gostaria de fazer algumas considerações e ressalvas. Acho que é para isso mesmo que vc mandou para nosotros! o que mando agora é algo muito rápido, fast-thinking, espero poder aprofundar um pouco mais, em uma outra oportunidade....

Acho que o primeiro princípio deveria ser um pincípio zero, de que todos os princípios podem ser a qualquer momento modificados ou abandonados desde que não sejam mais a expressão imanente das relações que se consitituem através de um determinado projeto.

Não gosto do conceito de *acesso público*, principalmente porque acesso já é a bandeira e estratégia do capitalismo. acho um conceito já totalmente colonizado e, por isso, enfraquecido, esterelizado [1].

Também não gosto do primeiro princípio começar com referência à licenças livres, pois isso já remete a uma certa produção de coisas[2]. os projetos de mídia livre que vc tomou como referência -- muda e cmi -- acho que tratam de criar relações e não coisas. acho que é preciso uma virada de foco. além do que, se fala tanto em licença e eu vejo a negada produzindo tão pouco... as vezes, com essa de enfatizar a licença, estamos fazendo o jogo do adversário, trabalhando pro patrão, reforçando a idéia do autor-proprietário, quando deveríamos incentivar o livre fluxo das invenções.

O principio 7 me agrada bastante, mas ao invés de realidade poderíamos falar em devir, ou algo que não passe a idéia de uma substäncia ou unidade já constituída [3].

Por fim, acho que o conceito de público também já era. se for para usar no plural, talvez seja melhor falar em apropriação menor.

Depois posso deixar alguns textos no xerox do ifch para vc, como [1]era do acesso de Jeremy Rifkin, [2]Property, substance and effect marylin strathern, e [3]the genesis of individuation Gilbert Simondon.

Não entendi direito o lance da grana, mas acho que deve-se estimular a geração de mecanismos tocos de autosustentabilidade, como venda de camisetas, cerva, rangos, rifas, de preferencia em ocasiões de congraçamento coletivo que estimulem uma vivencia coletiva mais anarquica e menos capitalistas -- tipo as oficinas da muda em que as pessoas pagam sua cerveja, pegam o troco e ninguém controla. qualquer prejuízo abaixo de 6% já um ganho revolucionário :-)

Comentários do Márcio

Acredito que deva ficar clara a mobilidade desses principios e o ponto zero proposto pelo Chico talvez dê conta disso. Levando em consideração o fato de que as relações são importantes neste caso e não apenas o fluxo de "produtos" ou "coisas". Buscamos o que é potente, afirmativo e vivo. Portanto, não se trata de pensar em democratizar os meios. Não se trata de ser uma alternativa, pois ela nada mais faz do que repor ou redimensionar a ordem. E sim de inventar espaços para a emergêcia de outras sociabilidades.

Quanto a grana lembro que o Çtalkre havia sugerido que as doações deveriam permanecer anônimas. É algo a ser pensado...

Comentários do Rhatto

Também a iniciativa muito interessante, gostei também das observações do Chico e logo de cara me saltou algo que talvez possamos pensar (não li tudo com a calma que gostaria): quase a totalidade dos grupos de hoje trabalham demais com a espetacularização: as ações que escolhem são as mais espetacularizadas possíveis (tanto é que não vemos os grupos trabalharem com a mesma intensidade em coisas de base ou em estrutura), eles tem uma preocupação imensa em mostrar o que estão fazendo, em trabalhar com mídia, etc. Isso deve ser uma herança da dita mídia tática e de mais um monte de coisa e acho que deveriam ser analisados, tem que ter uma crítica. Porque às vezes acho que os logotipos parecem surgir antes mesmo das ações...

Comentários do Çtalker

Viva o vazio grávido!

Acho que, no funcionamento da máquina de cuspir licenças, poderia haver a opção "licença cmi". Eu gosto, mas acho muito jornalística, pode ser pouco convidativo para, por exemplo, a moçada de arte autodependente... sei lá.

Comentários do Guile

gostei, é quase a minha própria cara!

só não gosto do tom tão restritivo que ficou, tanta pureza, tantas proibições, e da visão de comunicação restrita à "informação"...

oras, comunicação não é função de verdades e mentiras, é também de feiuras e belezas, claras e confusas, bemses e malses, prazeres e horrores, todas elas e o além delas...

como alguéms já disseram temos que ser menos a antítese daquela farsa e mais outras ondas, e aí possibilidades muchas... esqueçamos um pouco da tocaia... falemos das novas relações, dos novos sonhos, das novas liberdades que estão brotando...

princípios não precisam ser descrições de algumas de nossas rotinas, poderiam também caber mais experimentações, sonhos, encontros com outros...

aliás, princípios de comunicação livre, pra mim, são anseios de outros, de novos, de desconhecidas, de dúvidas, das mortes, dos "diálogos" que não é só "estimular o debate argumentativo", do "diálogo" que é metáfora para pontes entre mundos para além da vã filosofia européia...

me inspiro muito no zapatismo:

a "palavra verdadeira" zapatista é um pão quente que sai do forno, e o "consenso" é a construção de elos, entre pãos quentes... por um pão quente onde caibam muitos pãos quentes!

falemos menos leis... mais relatos e invenções... mais qualquer coisa, que venha do coração... mais pães quentes...

bjos

"pãos ou pães é questão de opiniães"

liberdade não é ruptura, é memória e invenção... (dos comunicados do EZLN)

viva o grávido!

Agora questões de ordem prática:

Proponho que se retire urgente o ponto que intimida quem coloca no currículo contribuições à comunicação livre, entre outros - como vou fazer para contratar professores com experiência na área? contratar apenas os amigos? consultar a ABIN?

Condenar a profissionalização de maneira absoluta também é cometer injustiças e fechar caminhos inexplorados: e quanto a desenvolver espaços livres na universidade... como professor, não posso mais? nem dar aulas sobre isso? Ou apago essas disciplinas do currículo? E possíveis bolsistas de iniciação científica da xibé? melhor voltar ao mercado de trabalho comercial?

E quanto aos meus anos de pesquisa sobre zapatismo? Foi traição? E o livro sobre zapatismo publicado pela FAPESP? Vendido ao sistema?

E a jornada de seminários a flor da palavra, e a rede de comunicação e solidariedade flor da palavra, unindo ativismo, arte, pesquisa, mídias independentes, movimentos? Tá tudo dominado! Pior, chegou a ter apoio institucional de algumas das universidades! Vendidos!

E quem estuda nas universidades? Melhor abandonar? Melhor tirar as rádios e servidores de lá também?

E quem não sabe baixar cinelerra, fazer manutenção de linux, melhor não publicar? o vídeo da xibé, feito em movie maker por falta de "acesso" ao linux, é um vídeo cooptado? Isso não é coisa de se colocar numa carta de princípios!!! Coloquem logo a proibição de ir a festas e fumar cigarros, como os evangélicos!

Por mais que se diga que não precisamos seguir todas as proibições, toda essa disciplina, já está lá a lista dos tabus! Parece até que estão querendo fazer um gerenciamento moral da cultura livre. Limpar, puruficar, expurgar os impuros.

Sinceramente, assim o capitalismo sequer precisa se flexibilizar para cooptar, dominar quem freia a própria criatividade é fácil, já está dominado.

Criar uma "ética geral dos relacionamentos", um conceito de "mídia livre" com base na reflexão conjuntural sobre como resistir às "cooptações" do governo federal é pobre demais...

EU QUERO PRINCÍPIOS SUJOS, INFECCIOSOS, PROMÍSCUOS!

a luta DELES é o controle, a NOSSA é a contaminação!


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